Psico-Socializando por Henrique Weber
Os nudes e sexting na adolescência
Hoje, estamos vivendo um fenômeno de massa que é a da sexualidade exposta, que certamente está seguindo o rumo da banalização, pois pessoas estão ficando cada vez mais acostumadas e habituadas com estes conteúdos no dia-a-dia. Antigamente, fotos íntimas era algo muito raro, localizado em casais mais liberais. Ou, se preparava uma estratégia militar para acessar a tão sonhada “revista de adultos”. Hoje, está tudo muito fácil e imediato. Naquele tempo, Estratégia era o recurso dispensado para se conseguir o telefone de alguém, um encontro mais privado, a conquista de um coração.
A Espera era outro recurso que fazia par com a estratégia, a pessoa ia galgando degrau por degrau para obter sucesso no seu plano amoroso. Atualmente, a geração de hoje vive num mundo totalmente diferente da geração dos anos 70 e 80, as pessoas sacrificaram o recurso da Espera (cultura do cancelamento), e a sociedade ficou tão sexualizada que a pornografia é oferecida em qualquer lugar, e até mesmo dentro da sua casa! Isto é uma provocação no sentido da gente se atentar ao quanto que se consome sexo, pornografia. Meios de comunicação jornalísticos vendem, todos os dias, anúncios de mulheres que prometem tirar a roupa: “Fulana revela ganhos no Only...(site adulto)”, “Modelo do Only... se inscreve em curso de arbitragem”, “Site adulto oferece R$600 mil a atacante suíça”. A oferta é tão tentadora, que este meio parece um espaço para recrutamento de mulheres a fim de tirarem a roupa. Em uma rede de notícias, sempre existe matérias jornalísticas sobre sexo que coloca uma artista famosa reforçando a satisfação sexual como um status de vida, um exemplo de sucesso e felicidade. Por que é assim? Porque sexo vende muito!
É só ir baixando a régua da faixa etária, e vamos desvelar comportamentos de homens e mulheres, garotas e meninos, que provocam o olhar do público para o seu dote sexual: meninas de biquíni, fazendo dancinhas, que apontem para o seu sexo, ou posando em posições sexuais sugestivas no Instagram, ou garotos ostentando carros, lanchas e outros objetos de valor, cercado por meninas de biquíni, que aponte para o seu poder de conquistador. Em suma, são inúmeros os exemplos que revelam o quanto convivemos com a estimulação sexual em nossa sociedade. Os Nudes é o compartilhamento de fotos íntimas autoproduzidas em redes sociais. Tem o poder de se espalhar caso haja a replicação para outra pessoa. Os Sexting é a mesma coisa, mas para textos sexuais, que podem viralizar também. Nudes e Sexting é o terceiro colocado no ranking de violação de direitos humanos, uma vez que se compartilha uma nudez, não se tem controle mais sobre este conteúdo e ele pode parar em qualquer lugar. As mulheres são as maiores vítimas disto, pois sofrem maior pressão dos seus companheiros ou afins para que tirem fotos nuas. A pressão é tão grande que cerca de uma em cada cinco mulheres já praticou o compartilhamento íntimo de fotos do seu corpo contra a sua vontade. Para os homens, a pressão ocorre através dos seus amigos. Se ele não compartilhar a desejada foto a qual tem posse, pode ser excluído do grupo, por motivos de lealdade, de virilidade dentre outros. Sendo assim, para os homens, ter fotos de mulheres de seu ambiente social confere status social de colecionadores, que lhe confere fama entre amigos. Para as mulheres, um risco a sua reputação, que pode ocasionar danos muito graves, como represálias de outras pessoas, condenações morais, assédios de toda natureza, intimidação, zombaria, prejuízos sociais em seu ambiente escolar, de trabalho ou familiar. Assim, os Nudes nem sempre é consensual, e pode ser usado contra a mulher como vingança, quando o companheiro ameaça espalhar suas fotos íntimas como chantagem contra a separação conjugal. A humilhação de ter suas fotos íntimas vazadas pode provocar uma marca traumática, levando a ideação suicida ou mudanças de escola, de domicílio ou de cidade.
E por que os adolescentes são vulneráveis a isto? A fase da adolescência é um processo de busca de si mesmo, de uma identidade, ele vai abandonando a sua auto-imagem infantil e vai se projetando na vida adulta. Isto se dá com as mudanças corporais, com a chegada dos hormônios sexuais. O adolescente precisa resolver a sua dependência dos pais, e encontra no grupo dos amigos o aporte perfeito para esta transição a fase adulta: ali, o adolescente desenvolve a sua capacidade, habilidade social, afetividade com o outro, se posiciona frente às questões dos adultos, encontrando um meio acolhedor e desafiador para isto. Então, o adolescente encontra a sua “tribo”, o seu grupo, que confere segurança e estima. Muitas vezes, o grupo funciona como se fosse uma entidade única, um corpo só, ou seja, se um grupo age de uma maneira, o indivíduo pertencido a ele, vai se comportar de forma semelhante. É preciso pertencer, caso contrário, o adolescente isolado estará suscetível ao sofrimento psíquico.
A sexualidade é compartilhada no grupo e as comparações são inevitáveis. Há uma ânsia em fazer o que o grupo faz, a título de alcançar um novo status dentro do grupo, e assim, um novo papel a assumir. Agora, se a nossa sociedade está extremamente sexualizada (com a finalidade de consumo imediato), se as celebridades de sucesso como os artistas, youtubers, tiktokers, instagramers, funkeiros, vendem a exposição do corpo pela sugestão sexual, os nossos adolescentes vão buscar nestes personagens para se identificarem. A pornografia acessada sem qualquer barreira é o reforço libidinal para a construção de um vínculo com o outro que seja de um objeto sexual de consumo imediato. O que eu me deparo, na minha observação clínica, é que garotos mais velhos, de escolas, assediam as meninas mais novas para elas mandarem nudes. Se não fazem, eles ignoram e buscam outro grupo que possa fazer. Se no meio dessa paquera, alguém do grupo compartilha fotos, este ganha a atenção dos guris. Nesta brincadeira, a probabilidade de uma menina ceder, por fidelidade ao grupo, aumenta. Isto começa com o namoro de alguém do grupo dos meninos, com alguém do grupo das meninas. São relações perecíveis. A chance de cair nessa seara e isto vir a ser compartilhada é muito grande, porque o adolescente não tem maturidade para medir as consequências. E muitas vezes, o menino troca o grupo, e namora uma menina de um grupo rival que pode usar como vingança para com a vítima. Concluindo, a exposição sexual na adolescência se dá mais pelo fator grupal do que como experiência sexual propriamente dita. Portanto, pais! Conheçam os grupos dos seus filhos, conversem, acompanhem.
O exibicionismo tem se tornado uma febre no meio adulto, um fator de competição sexual. Nas mulheres, o apelo ao corpo sexualizado confere um poder. Nos homens, busca-se o fator posse ou força, como componente da virilidade. A grande armadilha é transformar o outro em objeto sexual, o que empobrece muito o vínculo, a relação e o contato genuíno e saudável. Este tem sido um modelo a ser copiado pelos adolescentes, fazendo da sua maneira, ensaiando o desabrochar da sexualidade. Acredito que este modelo é o da pornografia que captura o início da sexualidade dos púberes, causando constrangimentos e distorcendo o desenvolvimento afetivo deles, e promovendo o fenômeno dos Nudes e Sexting.
Henrique Weber
Psicólogo clínico, Palestras e atendimentos on-line
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