Psico-Socializando por Henrique Weber

Família de muitos pais diferentes: a tragédia da paternidade na classe trabalhadora

Existe um fenômeno aqui no interior do RS, que talvez seja o que mais me intriga, são famílias onde uma mãe tem diversos filhos de pais diferentes, muitas vezes, três, quatro, cinco. É um ciclo/ padrão que se reproduz com certa força.

Podemos resumir assim: o homem vai embora de casa e não assume o filho (abandona totalmente ou paga pensão de poucas centenas de reais). A mulher arranja um outro companheiro que promete tirá-la do sacrifício diário. Eles se fortalecem, assumem a economia da casa, apoiam-se em relação ao problema do filho, fazem um outro filho, que vai  simbolizar a união do casal, e surgem os problemas da paternidade, o pai saí de casa.

E, a tragédia começa a tomar corpo porque um segundo filho já pesa bastante na parte financeira, já mobiliza os avós, impacta a saúde mental da família. Vem um novo relacionamento que é visto com muitas reticências, mas a promessa firme do homem de assumir os filhos faz renascer a possibilidade da mãe  ajeitar a sua vida. Pois, ela está num drama, começa a se imaginar indo para a beira de um abismo.

Muitas vezes, ela sente que não tem escolhas porque os problemas se avolumam e quem vai querer uma mulher com dois filhos. Ela se junta e tem a opção (e o desejo) de não querer mais ter filhos, mas o homem pede um filho para ela, pede como um sinal de fidelidade para com ele. Acredito que existe uma fantasia do homem de competir com os outros homens – pais dos filhos dela, uma afirmação da virilidade. Fato é que a ideia da fidelidade está muito presente. Eles fazem um filho e não demora muito para a separação. Os sentimentos da mulher agora está em frangalhos, e começa a bater um desespero.

Uma saída é a doença, a depressão, onde sua vida fica congelada e outros assumem o cuidado. A mulher fica muito vulnerável, e depois de um tempo solteira, ela começa a se relacionar com homens que já trazem bastante problemas, como o alcoolismo, a violência doméstica, os abusos de todo tipo, por exemplo. Se entrega a alguém na crença de que ninguém vai querer ela por causa do seu corpo, por causa dos problemas dos filhos, ou da condição financeira.

Quando uma família chega a quatro filhos (ou menos), é comum que ela mande um deles para ir morar com a avó, com a tia, porque surge o tema do ciúme do padrasto para com um dos filhos, e muitas vezes, o filho é o sacrificado. Porque é uma questão de sobrevivência, a mulher opta entre proteger o filho dos ciúmes e da fúria do atual marido, e não deixar este homem ir embora de casa. Aqui, muitos problemas derivam desta desorganização familiar, tudo isto tem um preço para os filhos também, pois eles guardarão a marca de ter sido abandonado pela mãe, podem ter certeza! Esta é uma história fictícia de um padrão real que verifico neste cenário.

A reprodução deste padrão é que mais me chama a atenção. Perambulam pelas ruas, sob o sol escaldante, para levar a escola ou ao médico, mulheres que carregam os seus filhos para cima e para baixo, numa proporção muito maior que os homens. Existe neste padrão um baixo índice de escolaridade. Segundo o meu amigo, professor Ricardo, só uns trinta por cento avançam no ensino médio. Faculdade, então, é uma coisa muito distante. Percebo que as condições de vida precária geram um contingente de pessoas de mão de obra barata, que tem uma rotatividade na indústria e no comércio de grandes empresas.

O eixo central do problema está na miséria emocional das famílias que vão se abandonando ao longo do caminho da vida. Eu faço grupoterapia nas escolas, e posso observar uma parcela grande de crianças e adolescentes desamparados, sem uma figura adulta que construa um projeto de vida. Para muitos pais-trabalhadores, o horizonte é que a criança comece a trabalhar com 15 anos, sendo uma nítida escolha, onde isto é a prioridade, em detrimento dos estudos, e logo, o adolescente larga os estudos, sai de casa para casar e constituir sua família, reproduzindo o status social dos seus pais, sem muito avançar (e, se der sorte, conseguirá fazer uma família de maneira mais estável).

Miséria emocional da classe trabalhadora. Observo uma estrutura, um sistema de relações sociais, que busca mitigar atenção, se aglutinam em círculos para cuidar daquilo que não é necessário, a vida alheia. Põe a prova um sistema de difamação do outro que é o espelho do seu próprio drama, são grupos que provocam e procuram ferir a reputação do outro, fazendo por diversão, sem pensar nas consequências.

Não conseguem enxergar o dano que se cria, justamente, porque na sua estrutura emocional não havia um pai ou uma mãe que buscou olhar para o filho (a) ao longo dos seus anos de infância. Tudo seria mais fácil se os homens assumissem o fardo de criar os próprios filhos. Também, se as mulheres pudessem impor a sua vontade, e fazer utilizar algum método anti-concepcional, o SUS disponibiliza tudo o que precisa, gratuitamente. O que faz esta reprodução acontecer?

Precisamos buscar uma saída na Educação e no Planejamento Familiar. É preciso aumentar o grau de escolaridade das nossas crianças, mas dentro de uma educação com qualidade (com investimento no professor e demais profissionais das escolas), porque precisamos construir indivíduos com projetos de vida, críticos, que possam mudar o destino de suas vidas, que possa assumir na íntegra as suas escolhas.

É preciso observar e interpretar o que está a sua volta e não reproduzir a mesma história. O papel dos governos e das políticas públicas é fomentar os dispositivos de Educação, Saúde e Assistência Social para amparar o problema econômico-social e emocional das famílias, que esta possa sentir a ação do Estado. Mas, tem faltado organização, planejamento e disposição para pensar e agir de maneira que cause um impacto sobre a população.

Reuniões, Conselhos, Assembleias, a vida coletiva precisa se organizar e ser acionada para tratar dos seus próprios assuntos. Não há outra maneira de resolver problemas sociais se não partir da própria cidadania, da democracia, e não esperar que outros possam fazer por nós.

Henrique Weber 

Psicólogo clínico, Palestras e atendimentos on-line

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