Psico-Socializando por Henrique Weber

Trabalho aos 14 anos de idade é saída para que?

Pode parecer fácil a fórmula para o sucesso que “o Trabalho é remédio para todos os males”, ou que “é o meio mais seguro para se encaminhar um ser-humano”. Talvez, eu não divirja disto, creio que nem a Ciência, nem a Religião, tem um poder maior que o Trabalho para educar uma pessoa. Mas, se esta fórmula fosse tão simples era só mandar todo mundo trabalhar que todos os nossos problemas estariam resolvidos.

E sabemos que não é bem assim. O convite de hoje é pensar os impactos possíveis do trabalho no jovem de 14 anos de família de trabalhadores braçais no interior do RS. Essa idade obedece a legislação do Jovem Aprendiz que permite o ingresso do adolescente no trabalho formal com fins de formação educativa. Quero responder a pergunta acima com o óbvio: a saída para todo trabalhador é trabalhar. Temos exemplos disto, quando um jovem entra cedo numa empresa e vai galgando cargos cada vez mais superiores até chegar ao sucesso. Mas, isto acontece quando existe estudos (principalmente) e um Plano de Cargos e Carreira na empresa. Nem todas tem, e muitos trabalhadores de nosso país vivem na informalidade. Os argumentos que vem a seguir questiona: será que resolve só mandar o seu filho pra trabalhar?

A cultura do campo é o da subsistência familiar, envolve o compromisso de tratar os bichos e a colheita, e colher esses frutos da produção. Para isto, deve-se acordar cedo e não obedece aos mecanismos do relógio, porém não se faz sozinho, todos tem que participar. É uma vida idílica, onde a angústia do adulto é um fator que perturba muito, e muitas ações são feitas para administrar os seus efeitos.

Ao final da tarde, buscam a roda de chimarrão para prosear e relaxar. Todos ganham funções mais ou menos rígidas quanto ao trabalho no campo e dentro de casa (creio que se obedece à tradição). Grande parte da educação fica para a mulher, e chega uma hora que o pai carrega o filho para a rotina diária de trabalho. Se ele tiver incomodando, resistindo a obedecer à mãe, ele é carregado antes do que se previa. A maioria reconhece que é preciso ter estudos, porém se os filhos não tiverem pré-disposição para as letras, para ser doutor, eles entram definitivamente para o campo, aprendem todo o ofício da produção rural, e é empurrado para fora de casa para casar e desenvolver a própria propriedade, ao lado da propriedade dos pais. Isto também vale para a classe trabalhadora urbana do Interior, existe uma idade que os filhos precisam largar o tempo de ociosidade para trabalhar, ajudar na subsistência da casa, no pagamento do aluguel, do transporte, dos remédios, ajudar nos problemas de saúde das crianças, etc. Logo, os filhos adolescentes serão incentivados a saírem de casa e formar a sua própria família, pois a economia doméstica fica muito apertada à medida que se avolumam os problemas.

Assim, paulatinamente, os filhos poderão ser desestimulados a seguirem estudando. Os pais dos jovens da cidade grande ou da classe médias cobram dos filhos mais responsabilidade e independência, mas não querem se separar deles. Na classe trabalhadora, os jovens recebem uma pressão para tomar um rumo na vida. O Trabalho para os pais-trabalhadores serve ainda para tirar os filhos dos problemas da rua, como as drogas, o consumo de álcool no volante e a gravidez precoce. Já para os jovens, o Trabalho é campo propício para descarregar a ansiedade frente aos conflitos vividos na sua fase, liga ele a realidade diante de flutuações dos seus pensamentos (fantasia).

O ingresso no mundo dos adultos é vivido com grande expectativa e ansiedade pelos adolescentes, seja no campo da sexualidade ou no campo social, da rua. Almeja-se maior liberdade para eles viverem as relações sociais, amorosas ou as coisas da cultura com o seu grupo de iguais. Um fator carregado de ansiedade é a tensão com os seus pais, quando implica uma moratória, uma interdição, quando se estabelece o que é proibido.

Os adolescentes se comparam entre si, alguns já estão “mais adiantados”, e estes são usados como exemplos para que os pais possam “largar mais os filhos”. Os adolescentes não querem ser iguais aos seus pais. A busca pela construção de sua identidade faz com que ele se desidealize das figuras paternas e busque outros ideais, muitas vezes, outros adultos para se identificar. O adolescente vive um luto da identidade de criança, vivido como desamparo, e o grupo de jovens é um recurso importante para eles fazerem esta transição, do infantil para a vida adulta. Através do grupo se pode compartilhar da ideologia (“o novo contra o velho”), e da rebeldia (“somos livres e mais fortes”), recursos importante para lidar com a moratória e com o desamparo.

A nossa Cultura moderna impõe um ideal de independência. Nesta, se descobre que o adolescente pode competir com o adulto nos dois campos citados. Na classe média, o adolescente passa por uma moratória, percebido como um hiato entre a infância e a adultez. Nesse momento, ele precisa enfrentar a angústia e fica neste limbo se preparando para chegar na vida independente. Esta preparação se dá através dos estudos.

Os pais custeiam este tempo de preparação, pagando a faculdade e outras necessidades. Esta moratória aplica um tempo difícil para o adolescente onde ele tem que suportar. Ele se apoia no grupo para dar conta, e seguindo uma boa direção, desenvolve aspectos emocionais importante para a vida. Na classe trabalhadora, a entrada para o mundo do trabalho aos 14 anos, encurta o tempo de moratória, o adolescente alcança “a independência” (no caso aqui, a diminuição da cobrança encima dele). O jovem consegue alívio pois agora ajuda seus pais nas contas da casa, adquire bens valorizados pela sociedade, e se libera para viver a própria vida, de maneira protegida. Ele não está livre da angústia, ela vai surgir na ideia de se construir a própria família. Mesmo que o jovem decida aproveitar a vida antes de casar, cada relacionamento traz o enlace de uma relação duradoura, um “contrato matrimonial”, que envolve o ideal dos pais. Assim, o mundo do trabalho pode acelerar um amadurecimento psíquico, porém encurta o tempo que o adolescente tem para se conhecer mais. Esta força que empurra o jovem para o trabalho, se dá pelas projeções dos pais e pelo ideal do Trabalho como a cura de todos os males.  Então, o trabalho é desejado pelo jovem de 14 anos, pois diminui a conflitiva com os seus pais e dá uma oportunidade para a liberdade sonhada, porém abrevia os anos de estudos, fixando o destino dos jovens, caso ele não seja acompanhado pelos pais.

Se um jovem faz esta transição para o mundo adulto aos 14 anos, sem um apoio, vivendo seu desamparo de modo neurótico, se colocando em situações de violência ou de comportamentos autodestrutivos, esse jovem, talvez, fez uma opção para escapar da conflitiva com pais, mas acaba se enredando mais ainda nos conflitos parentais (que tem um poder, muitas vezes, implacável). Ou seja, ele atua, reproduz os problemas dos seus pais que foram projetados nele. O resultado é o jovem ficar fixado no destino que a família tem construído para si mesma, e não avançará em sua vida. Nos dias de hoje, esta situação pode ser comum, porque há uma sedução no jovem por consumo imediato, o adolescente está trocando a ideologia (ideal de ser alguém) por objetos de consumo (o ideal de ter para ser alguém), o que reforça mais a desistência precoce dos estudos.

O adolescente precisa de acompanhamento, pois essa saída para trabalhar vem carregado pela projeção do desejo dos pais e pelo valor da cultura, conferindo um lugar na comunidade, escapando da moratória. Tudo muito sedutor. Ele estando sozinho pode ser que deixe os estudos de lado. Não dá para deixar de ser pai nesta hora, é preciso operar com algum tipo de interdição ou moratória para que o adolescente não esteja satisfeito com a sua vida, para que almeje mais. O Trabalho é importante pelo seu caráter estruturante, porém os Estudos é o meio que propicia o avanço para o desenvolvimento. Temos no Interior um índice significativo de baixa escolaridade que impacta diretamente na economia das famílias e do Município. Fiquemos atento! precisamos unir esforços para enfrentar a evasão escolar.

Psicólogo clínico, Palestras e atendimentos on-line

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