Psico-Socializando por Henrique Weber
Psicologia e Espiritualidade: este Oráculo de Delfos
Antigamente, o povo grego buscava se consultar com os Oráculos, que eram lugares onde se faziam previsões ou se escutavam as divindades. Haviam muitos oráculos espalhados pela Grécia e Roma, o mais famoso era o de Delfos. As pessoas chegavam com os mais diferentes tipos de questões, como por exemplo, se deveriam comprar tal terra produtiva, se deveriam casar com tal pessoa, quem seria o pai de uma gestante, quem foi que roubou seus bens ou quem iria vencer a guerra. Muitos esperavam uma resposta decisiva, clara e objetiva, mas não era assim que funcionava.
Esses lugares eram muito especiais, no início se abria apenas uma vez ao ano, depois passou para uma vez ao mês. As pessoas faziam fila para se consultar, traziam presentes, muitas vezes de grandes valores (até porque rendiam um lugar melhor na fila). Com a alta da demanda se viu cada vez mais necessário uma boa administração. Em Delfos, o Deus Apolo (Deus da Razão), era o mensageiro, mas existiam outros deuses que habitavam outros oráculos. Aquele que mais “adivinhava” e acertava suas previsões, gozavam de melhor reputação. Os Deuses falavam para intermediárias, as sacerdotisas- anciãs Pítias, que traziam as respostas de maneira oral ( oraculum – oral – “pequena boca”). Uma vez que a profecia era lançada, se acreditava que esta lei supra terrena fosse registrada numa espécie de infosfera (podemos chamar de inconsciente coletivo), e que o tempo se encarregaria de realizá-la. Ao final dos trabalhos, as profecias eram registradas e devidamente guardadas para conferência.
Penso que o que mais se assemelha aos Oráculos são os centros religiosos que confiam em espíritos, por existir o intermediário como canal de uma divindade. Diferente das igrejas que buscam um caminho moral, o oráculo é a busca de um contato mais concreto com o divino. A pergunta é o fator mais importante. Antes dela de ser lançada nesta infosfera, a pessoa bebia a água de Delfos e mascava louro, como preparação para receber a resposta divina. A profetisa também era banhada por fluídos que a entusiasmava e isso trazia uma inspiração divina para o seu trabalho. No meu imaginário, uma vez lançada, a pergunta circularia entre várias outras perguntas. A força da fé seria o poder sedutor para o alcance de uma divindade, que pescaria a sua pergunta e levaria ao Deus para responder. Admira-me que na sociedade grega, berço da racionalidade e da democracia, se buscava no misticismo respostas para suas angústias. Agora, as respostas nunca eram conclusivas, e sim, indicativas. Se apontava um caminho e a pessoa decidia com seu o livre arbítrio.
À semelhança do que acontece numa psicoterapia, as perguntas são colocadas pelo paciente para ele próprio ouvir. Ao atingir o coração, se busca o contato com a intuição, com o sagrado de cada pessoa, com o seu centro, o seu self. As intervenções do psicólogo não serão conclusivas, e o profissional vai apontar caminhos para o paciente pensar. Logo, o processo psicoterápico é como um oráculo, pois peregrinamos com nossas perguntas e existe um tempo para chegarmos a certas conclusões, com o objetivo de tomar decisões. Nosso corpo é o templo e devemos tratá-lo assim, pois é preciso cuidar desse santuário, com boa alimentação, tempo de sono, meditação, que é para fluir e se preparar para o trabalho psíquico. A espiritualidade é o plano mais sutil de nossa vida, ela é uma extensão de nosso corpo através do qual nos projetamos ao divino. Para isto, precisamos desenvolver nossos canais de acesso, pois este plano é intuitivo. E o psicólogo, por mais que obedeça a racionalidade psicológica, ele trabalha o tempo inteiro com a sua escuta fina, intuitiva. Se depara com as projeções do paciente, com as próprias, a fim de construir uma gramática psíquica para os fenômenos que o paciente vai vivendo no seu inconsciente. Espiritualidade é algo que o psicólogo deveria investir mais, claro, sempre de maneira científica, questionando e tomando nota de suas observações. Mas, negar esse fenômeno pode ser um preconceito que leva a um ponto cego, a uma dificuldade na clínica. Eis o Oráculo da Psicoterapia: “Conheça-te a ti mesmo”.
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