Psico-Socializando por Henrique Weber
OBSOLETO – Ser Influenciador Social já é coisa do passado
É o desejo de muitas pessoas se tornar Influencer Social. A opinião de crianças e adolescentes é de que adquirir esse status não é necessário estudar. No imaginário deles, ser influenciador social é ser famoso e rico, é ter o poder de ditar comportamentos, mexer com o coletivo de jovens, a ponto de imprimir uma marca, e isto ficar registrado no tempo, mesmo que seja por um dia nos Trending Topics, é a vida dos artistas dos tempos atuais. Fazer conteúdo e alcançar o feito de milhares de likes, repetidamente, pode ser a oportunidade de ser catapultado para o patamar das celebridades. Isto é algo muito distante, mas para quem sonha entrar neste rol, talvez, pareça ser possível.
Penso que é preciso conseguir um empresário, aproveitar as grandes festas para descolar uma amizade, sair na foto para bombar o Instagram, fazer transparecer que existe um artista top que vai te içar para o plano dele, a ponto de, em algum momento, você conseguir se sustentar neste meio por sua própria marca. É preciso ser igual a eles, adquirir um carrão de um milhão, uma mansão ou cobertura nas capitais mais caras do país, ou numa praia paradisíaca, ou quem sabe num condomínio superluxuoso, frequentar os espaços estéticos mais renomados, comprar espaços publicitários nas mídias nacionais, fora outras coisas que vão entrando numa lista de gastos no seu extrato bancário. Realmente, é um investimento muito alto! A vida não parece ser tão benevolente com quem se arrisca tanto, ninguém imprime dinheiro e nada cai do céu. Ao contrário, você está entrando numa sociedade onde amigos são os que você compra, e fora das suas vistas, você pode estar sendo cozinhado no caldo da inveja e do desprezo, tendo que lidar com gente pronta pra te puxar o tapete, e torcendo para que a sua queda seja grande.
Não te assusta ser Influenciador Social? O que mais me assusta não é com esse futuro projetado aqui, pois para quem escalou as montanhas do status social, e alcançou metas e cifras deste meio, enfrentar os “crocodilos sociais” é uma questão de se ter uma boa equipe, que seja fiel, bem remunerada e atinada, trabalhando pra você. É o “como” construir esta base de sustentação desse projeto, este personagem para ser consumido pelos fãs, pois isto vai te tomar um tempo enorme de sua vida, que poderia estar sendo empregado em algo mais garantido. A visão que eu tenho é que Influencer social é um saco sem conteúdo que não para em pé. Não duvido que são pessoas que tem qualidades, como a da comunicação, que tem uma grande antena para captar os assuntos do momento, e que consegue emitir uma opinião por meio do conteúdo postado, mediante um estudo instantâneo do assunto, para que seus fãs se identifiquem ou fiquem alvoroçados. Acontece que estudar de tudo um pouco, um assunto diferente para cada dia, é processar muita informação com um hardware não tão bem preparado... vai bugar! Você vai se perder, e pouca credibilidade vai lhe restar. Ter sucesso em qualquer profissão é construir uma base de conhecimento, enfrentar grandes questões na sua área, para poder ter a segurança de se saber algo sobre alguma coisa. Aí sim, com alguma expertise no assunto, o Influencer pode estar credenciado a ter um canal, e criar conteúdo com substância e arregimentar seguidores.
De qualquer maneira, essa realidade o coloca numa situação que não é qualquer um que está disposto a enfrentar. A Social Midia é algo novo, uma linguagem que todos conhecem, mas poucos a dominam. Nesse sentido é equivalente a um “artista de vanguarda”, uma nova maneira de fazer arte, onde se toma o “Zeitgeist” (espírito de uma época) e se domina a técnica. Porém, se a chave é saber se colocar nesse meio para angariar fãs, eu não vejo outra maneira de se sustentar nessa posição, senão do lado da crítica ou da oposição ao sistema (subverter o olhar das coisas), e não do lado do consumo de massa (que é a condição intrínseca desse trabalho). É a chance de você se destacar e se manter neste meio artístico. Pois, fazer o que todos pretendem fazer, ir para onde todos estão indo, as consequências disto é o cansaço e a obsolescência.
Ser influenciador social é buscar uma vida passageira, que pode ser conseguido por uma ótima oportunidade ou sob muito trabalho. Mas, se tornar obsoleto é o seu fim, e de maneira rápida. Veja bem, quantas coisas são tão mais grandiosas e que estão caindo em desuso. As artes plásticas, por exemplo, quem está interessado em ser um grande pintor, atravessar o caminho de estudar os grandes, e fazer a desconstrução e criar algo novo por meio de uma tela? Hoje, a relação que se tem com a imagem é de tirar fotos para postar nas redes sociais, colocar filtros para os seus narcisismos. Pelo mesmo caminho trilha a orquestra sinfônica para o concerto ou ópera. Não se vê um grande compositor, claro, com poucas e raras exceções. Ela foi substituída pelo rock, e hoje pelo funk e pop. A música clássica perdeu espaço para a indústria de massa, e foi habitar este espaço em trilhas sonoras de cinema. E a Sétima Arte... esta foi a que mais cresceu com a revolução tecnológica. Virou vídeos para memes, dancinhas no Tik Tok e outras bobagens, ou o consumo via Netflix, a fim de agregar cultura ao invés de se ler um livro. Muitos acreditam que ver séries é uma maneira de aprender sobre a mente de um psicopata, ou sobre a investigação policial sofisticada. São interesses por figuras marginais, uma tendência no mundo, que está cansado dos grandes temas da humanidade que habitavam as regiões centrais do Norte global. E o Romance virou leitura instantânea em redes sociais, folhetins curtos e superficiais, no mundo da fofoca ou do jornalismo, para consumo rápido. Será que as pessoas entendem que um livro vem operar numa realidade que não enxergamos, de maneira profunda? Muita coisa tem ficado obsoleta, até mesmo escrever. Meu texto pode ser bom ou ruim, mas o que importa não é a qualidade, e sim o tamanho dele, que dependendo da plataforma em que ele aportar, será lido ou não. Certamente, não atingirá as massas, que é o que o influenciador social necessita. Conclui-se, então, que “a profissão” Influencer social veio para ficar, mas que a tendência é a obsolescência do influenciador que será rapidamente descartado.
Analisando o atual estado do nosso Brasil, estamos passando por uma séria desindustrialização e uma crise na educação superior. Precisamos formar engenheiros, administradores, professores ou melhorar o nível de nosso ensino. O Ensino à distância está virando uma solução mercadológica, mas não pedagógica, a quantidade em detrimento da qualidade. Agora me responda, o país precisa de influenciadores sociais? Este trabalhador das mídias digitais é o ícone da precarização do trabalho, é o resultado da economia neoliberal no seu mais alto grau. Depende predominantemente de si para o sucesso, passará 24 horas trabalhando nisto, e não terá garantia alguma de direitos trabalhistas e seguridade social. Seu objetivo é reproduzir aquilo que é muito reproduzido e esperar que o bônus recaia sobre si mesmo, um SuperStar. É meu amigo... o melhor é você estudar!
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