Meio Ambiente e Sustentabilidade por Márcio Silva do Amaral

QUANTO CUSTOU?

O Rio Grande do Sul tem enfrentado uma recorrência alarmante de eventos climáticos extremos, como inundações, vendavais e estiagens, que resultam em vastos prejuízos humanos, ambientais e, significativamente, financeiros. Estes desastres têm testado a resiliência das comunidades e da economia gaúcha, exigindo respostas emergenciais e planejamentos de longo prazo cada vez mais robustos. Um dos epicentros dessa crise é o nosso Vale do Taquari.

Desde setembro de 2023, até agora junho/25, o estado tem registrado eventos extremos sucessivos, com destaque para as enchentes provocadas pelo transbordamento do Rio Taquari e de seus afluentes. Esses episódios causaram a destruição de infraestruturas públicas e privadas, desalojaram milhares de famílias e comprometeram significativamente a economia local.

No Vale do Taquari, que compreende aproximadamente 40 municípios, os prejuízos são dramáticos. De acordo com dados da Defesa Civil e de entidades como a FIERGS (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul), os danos financeiros na região já ultrapassam os R$ 4 bilhões. A infraestrutura urbana foi severamente impactada: pontes destruídas, estradas interrompidas, sistemas de abastecimento de água e energia danificados, além de prejuízos incalculáveis ao patrimônio público e privado.

A economia do Vale do Taquari tem forte base na agroindústria, na agricultura familiar e no comércio. O impacto sobre esses setores tem sido profundo e contínuo. Lavouras de milho, soja, hortaliças e frutas foram arrasadas, interrompendo o ciclo de produção e inviabilizando a geração de renda para centenas de agricultores. As perdas diretas na agropecuária da região ultrapassam R$ 800 milhões, segundo dados da EMATER/RS-Ascar.

O setor industrial também foi gravemente afetado. Fábricas foram alagadas, máquinas e estoques perdidos, forçando a paralisação ou mesmo o encerramento de atividades. Pequenas e médias empresas, que formam a espinha dorsal econômica da região, têm enfrentado dificuldades para obter crédito e retomar suas operações.

Além disso, o comércio varejista sofreu com a destruição de lojas e estoques, e com a queda abrupta no consumo, resultado do desemprego e da migração forçada de parte da população. Em municípios como Lajeado, Estrela, Arroio do Meio, Encantado e Taquari — importantes polos comerciais e industriais — os prejuízos somados ultrapassam R$ 2 bilhões.

Os prejuízos financeiros causados pelos desastres climáticos não se limitam à destruição de bens materiais. Eles geram uma cascata de consequências sociais e econômicas: desemprego, retração da economia local, evasão escolar, aumento na demanda por serviços de assistência social e saúde. A arrecadação tributária municipal também sofre quedas acentuadas, comprometendo a capacidade de investimento e manutenção dos serviços públicos.

Os governos municipais, pressionados por demandas emergenciais, têm utilizado seus já limitados orçamentos para atender às necessidades básicas da população afetada. Mesmo com repasses estaduais e federais, os recursos são insuficientes diante da magnitude da crise. Muitos municípios decretaram estado de calamidade pública, o que permite acesso facilitado a recursos, mas também revela a extensão do colapso estrutural.

O cenário vivido pelo Vale do Taquari e por outras regiões do Rio Grande do Sul evidencia a urgência de um novo modelo de planejamento urbano e ambiental. As perdas financeiras só tendem a aumentar se políticas públicas não forem implementadas com foco na prevenção e na adaptação às mudanças climáticas.

Investimentos em infraestrutura resiliente, como obras de contenção de cheias, sistemas de drenagem urbana eficientes e mapeamento de áreas de risco, são essenciais. Da mesma forma, políticas de ordenamento territorial, educação ambiental e apoio à agricultura sustentável podem reduzir a vulnerabilidade econômica e social da região.

O Vale do Taquari tornou-se um símbolo da fragilidade das cidades brasileiras diante dos efeitos das mudanças climáticas. Os prejuízos financeiros acumulados não representam apenas perdas materiais — eles comprometem o desenvolvimento sustentável de uma região inteira, atingindo vidas, histórias e projetos de futuro.

A reconstrução não pode ser apenas emergencial; ela precisa ser estruturante. Para isso, é necessário o engajamento coordenado entre governos, sociedade civil, setor produtivo e instituições de pesquisa. Só assim será possível transformar uma tragédia recorrente em uma oportunidade de recomeço mais justo, seguro e preparado para o que o clima ainda pode trazer.

Márcio Silva do Amaral

Engenheiro Ambiental
CREA/RS 270848

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