Seguro agrícola cresce no Brasil e preço deverá cair em 2020 com ampliação do mercado
Previsão de aumento da subvenção para R$ 1 bilhão no próximo ano tende a reduzir o valor das apólices, que hoje varia de 3% a 15% do custo de produção.
27/09/2019
Por Clic Paverama | contato@clicpaverama.com.br | Clic do Vale
Em Agricultura e Meio Ambiente
Produtora de grãos em Não-Me-Toque, no norte do Rio Grande do Sul, a família Maurer adotou a máxima de que é melhor prevenir do que remediar. Há sete anos, o produtor Alberto Guilherme Maurer, 59 anos, passou a proteger 100% da lavoura de trigo com seguro agrícola. De lá para cá, só não teve frustração com a cultura em um ano.
— Não fosse o seguro, talvez não estivéssemos mais plantando trigo — afirma o filho Alberto Maurer, 24 anos.
A experiência com os cultivos de inverno, prejudicados sucessivamente por problemas climáticos ou de mercado, levou os produtores a decidirem proteger toda a lavoura de soja da próxima safra. Serão 120 hectares cobertos: cem por apólice particular e 20 pelo Proagro — seguro público destinado a atender pequenos produtores.
Com a medida, terão o equivalente a 45 sacas por hectare garantidos antes mesmo do plantio. O volume é bem inferior as 75 sacas colhidas por hectare na safra passada, mas o suficiente para evitar o endividamento em caso de intempéries.
— Nos últimos anos, o tempo ajudou, tivemos safras cheias. Mas não temos como controlar o que virá nos próximos — indica o jovem produtor, associado da Cotrijal, que estimula os agricultores a protegerem a produção.
A mudança de cultura diante da necessidade de evitar perdas é responsável por boa parte da expansão do mercado de seguros — que cresce na casa de dois dígitos nos últimos cinco anos, segundo a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).
— Essa percepção varia entre regiões e culturas. Está relacionada também com ocorrência de intempéries ou não — explica Joaquim Neto, presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg.
Acostumados a conviver com instabilidades do tempo, os produtores rurais da Região Sul respondem por 67% das contratações no Brasil com subvenção (diferença paga pelo governo federal na contratação da apólice). Somente o Rio Grande do Sul concentra 21% do mercado brasileiro — com 13.515 apólices em 2018. O Paraná lidera com 38%.
Número de beneficiados deverá ser ampliado
Há ainda as contratações sem apoio do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), hoje parte significativa do mercado. Para 2020, o Palácio do Planalto prometeu triplicar o atual volume de recursos — chegando a R$ 1 bilhão. Nos últimos quatro anos, o valor médio liberado ficou em R$ 370 milhões.
— Há grande expectativa em torno desse aumento. Se concretizado, mexerá com o mercado, reduzindo a incerteza dos produtores na contratação — estima o executivo da FenSeg.
Em 2014, quando a subvenção chegou a quase R$ 700 milhões, o número de apólices bateu recorde no país desde 2006, quando teve início o PSR.
— Hoje, o repasse do governo cobre uma parte muito pequena das apólices. Os produtores gaúchos, os últimos a contratar pelo calendário agrícola, praticamente não poderão contar com o benefício neste ano — reclama Elmar Konrad, vice-presidente da Federação da Agricultura no Rio Grande do Sul (Farsul).
O aumento do subsídio a partir de 2020 busca justamente expandir o número de agricultores beneficiados — ampliando a cobertura no país. Para a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), o montante necessário para a subvenção seria de, pelo menos, R$ 2 bilhões.
— Não estamos tratando apenas da proteção da agricultura, mas da economia brasileira, evitando renegociações que se arrastam por anos — acrescenta o dirigente da Farsul.
Do total da área agrícola brasileira, estima-se que de 10% a 15% tenha algum tipo de proteção.
— O percentual é muito pequeno ainda, principalmente se comparado a países como os Estados Unidos, onde a cobertura chega a 80% — detalha Patrícia Siequeroli, diretora de Seguros Gerais da Mapfre, parceira do Banco do Brasil no segmento de seguros.
Com 8,7 milhões de hectares de grãos cultivados, somando culturas de verão e inverno, o Rio Grande do Sul teve apenas 591 mil hectares cobertos com algum mecanismo de proteção na última safra — o equivalente a 6,7% da área total.
Perdas com granizo reforçam cobertura:
Renata e Vilson Bortolini dizem que, sem a indenização, estariam até hoje pagando dívidas da safra passada. Foto: Maiara Bortolini / Arquivo pessoal
Na manhã do dia 30 de outubro de 2018, quando acordou e viu o estrago feito pela forte chuva de granizo nos parreirais, Vilson Alberto Bortolini se desesperou. Logo depois respirou aliviado.
— Se não tivesse seguro, estaria pagando dívidas até hoje. Não ficou uma folha na parreira, perdi praticamente 100% da safra — conta Bortolini, 39 anos, produtor em Nova Roma do Sul, na Serra.
O cenário de destruição foi vivenciado por dezenas de vitivinicultores de pelo menos 14 municípios da região atingidos pela maior tempestade registrada desde 2010. Com os 2,5 hectares de produção cobertos, Bortolini recebeu o dinheiro equivalente aos custos de produção e ao rendimento histórico da safra na região.
— É como se tivesse colhido e vendido a uva, pelo preço de mercado — relata o produtor, que trabalha ao lado da esposa, Renata Rigo Bortolini, 40 anos.
Neste ano, ao ampliar em mais 1,6 hectare o cultivo de variedades tintas como isabel, niágara e magna, não pensou duas vezes. Contratou seguro para toda a área e ainda aumentou o valor da indenização paga em caso de sinistro.
— A nossa empresa é a céu aberto. Não podemos ficar refém do tempo, cada vez mais imprevisível. Com seguro, durmo tranquilo — relata Bortolini, que vende toda a produção para a Cooperativa Vinícola São João, de Farroupilha.
Segundo executivos de mercado, a adesão ao seguro agrícola no Brasil ainda está relacionada a episódios de perdas e não de prevenção:
— Sempre que há incidência de evento catastrófico, há crescimento abrupto na venda de seguros — afirma Patrícia Siequeroli, diretora da Mapfre, que prevê crescer 165% no Rio Grande do Sul em 2019, principalmente pelo aumento das contratações na produção de uva na Serra.
Seguradoras poderão reduzir preço
Mateus Bruxel / Agencia RBS
O crescimento de mercado de seguros, se concretizado o novo volume de recursos para a subvenção, poderá levar à redução de preço das apólices no Brasil. Hoje, o valor desembolsado pelo produtor varia de 3% a 15% do custo de produção, conforme a região e a cultura coberta.
— O seguro parte da prerrogativa de mutualismo, ou seja, quanto maior o número de segurados menor o custo e, consequentemente, barateamento do produto — explica Joaquim Neto, presidente da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).
Pelas novas regras do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural, que entrarão em vigor em janeiro de 2020, o limite por apólice será de R$ 48 mil. Hoje, o teto é de R$ 72 mil.
— Isso permitirá que mais produtores sejam atendidos, aumentando a carteira de segurados — explica Neto.
Os percentuais de incentivo do governo também serão reduzidos. O seguro das culturas de verão poderá ter abatimento máximo de 25%, enquanto o das de inverno, frutas, olerícolas e pecuária, 40%.
— O importante é dar segurança aos produtores para contratar a cobertura com subvenção que será paga, o que não tem ocorrido nos últimos anos — diz Patrícia Siequeroli, diretora da Mapfre.
A executiva também prevê redução no preço das apólices à medida que a carteira se ampliar — assim como ocorreu nos mercados de automóveis, por exemplo:
— Quando você tem uma massificação do seguro, é possível reduzir taxas, sim – afirma Patrícia.
Tipos de seguro
Custeio
Quando o seguro contratado cobre os custos de produção da cultura. É uma cobertura do que foi investido na safra. Responde por cerca de 30% das apólices no país.
Produtividade
Garante os custos de produção e a expectativa de produtividade, levando em conta o histórico do produtor e da região, além do nível tecnológico da propriedade. Responde por 69% das contratações.
Receita
Além de garantir os custos de produção e a expectativa de produtividade, cobre ainda a variação de preço do produto no período segurado — pagando ao produtor o valor atual de mercado. Representa 1% das apólices.
Fonte: GaúchaZH
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