Tabaco segue liderando cultivo em áreas rurais do RS

Ranking divulgado pela Afubra ainda coloca três municípios da região de Camaquã entre os dez maiores produtores do Estado.

22/10/2019

Por Clic Paverama | contato@clicpaverama.com.br | Clic do Vale
Em Agricultura e Meio Ambiente

A agricultura familiar tem uma peculiaridade no Rio Grande do Sul: o tabaco lidera na questão do faturamento o cultivo em áreas rurais do setor no Estado. A cultura concentra em território gaúcho 50% da produção nacional, e dos 10 maiores plantadores, sete também estão no Estado.

Uma das explicações para essa preferência pelo tabaco em pequenas áreas é que a cultura precisa ser trabalhada por mão de obra intensiva, outra característica associada à agricultura familiar. O Brasil é o segundo maior produtor da cultura (China é o primeiro) e o maior exportador mundial.

Os números no Estado:

Na região Sul do Rio Grande do Sul, o tabaco chegou para ficar. Conforme dados divulgados pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), entre os dez maiores produtores do Estado, cinco são daquela região. Em primeiro lugar pelo terceiro ano consecutivo, Canguçu surge com uma produção estimada de 22,8 mil toneladas na safra 2018/19. Há dez anos, o município era o quarto na lista, atrás de Venâncio Aires, Santa Cruz e Candelária.

Entre os cinco primeiros, São Lourenço do Sul surge em terceiro e Camaquã em quinto. A produção santa-cruzense aparece em sexta posição na lista, com 12,7 mil toneladas. Contudo, o gerente do Departamento de Supervisão Técnica da Afubra, Paulo Vicente Ogliari, ressalta que os dados consolidados poderão ser publicados somente em julho, quando a entidade deve contar com o relatório final da safra.

Ogliari acredita que, por aqui, o produto vem perdendo espaço em razão de uma série de fatores. Entre eles, destaca as emancipações, que acarretaram em perda de área física em municípios como Santa Cruz do Sul, além da migração para outras culturas e, também, a redução do número de produtores, com a aposentadoria no campo. Outra possibilidade para a redução do número de fumicultores no Vale do Rio Pardo é a escolha de alguns em deixar o campo para atuar nas cidades, especialmente junto às indústrias. 

Enquanto isso, o Sul desponta. Há dez anos, por exemplo, Canguçu somava 14,2 mil toneladas, em uma área de 9.321 hectares – na safra atual são 10.275. Naquela época, Pelotas sequer aparecia entre os principais produtores de tabaco. Hoje, surge em décimo, com quase 7,7 mil toneladas do produto, cultivadas em uma área de 3,5 mil hectares por quase 2 mil fumicultores.

“O Sul está descobrindo o ganho econômico do tabaco. Também estão investindo em tecnologias, com lavoura irrigada, por exemplo, o que pode garantir uma produtividade superior ao normal. Outra característica é que eles plantam mais tarde. Nessa época tem gente, no Sul, que recém está terminando a colheita. Aqui na região já se está pensando em plantar a nova safra”, afirma Ogliari. 

Cuidado com a umidade:

Diante do tempo chuvoso, quem ainda tem tabaco nos galpões precisa ficar atento. Conforme Paulo Vicente Ogliari, da Afubra, é fundamental que o produto fique em local sem contato com a umidade, preferencialmente sob lençol plástico. Outra possibilidade é vendê-lo o mais breve possível.

Enquanto isso, diante de 69% da safra 2018/19 vendida, outros agricultores começam a planejar o próximo plantio. Na região, por exemplo, mais de 70% já semearam seus canteiros. “Na parte baixa passa de 90%”, comenta Ogliari. Com o atraso do frio e a continuidade da chuva, os fumicultores também poderão perceber uma aceleração na germinação das sementes e o desenvolvimento mais rápido das mudas. 

O agricultor:

A Expedição da Agricultura Familiar finalizou a primeira etapa do projeto, na Região Sul, visitando o município de Venâncio Aires, tradicional reduto de fumicultores gaúchos na região central do Estado.

Mais de 7 mil famílias vivem na área rural, sendo 98% pertencentes à agricultura familiar. "O tabaco tem a lucratividade boa, mas não é só do tabaco que vive o pequeno agricultor, tem outras culturas como milho, soja, avicultura, pois o mercado varia muito então é preciso ter variedade na propriedade", diz o chefe da Emater em Venâncio Aires, Vicente João Fim.

O tabaco chama a atenção do produtor, pois não é preciso plantar em grande quantidade para obter um lucro alto. Neste ano, os 9.500 hectares plantados de tabaco em Venâncio Aires e região registraram faturamento entre R$ 15 mil a R$ 16 mil por hectare.

Já o milho, outra cultura de destaque no município, é plantado em 12 mil hectares, mas a renda varia entre R$ 3 mil a R$ 3,5 mil por hectare. A propriedade do casal Eroni Erno Gaertner e Marli Metz Gaertner tem diversificação, com milho, aves, gado e frutas, mas não poderia faltar também o tabaco.

A propriedade tem 17 hectares e eles moram no local há 39 anos. De lá pra cá a forma de cultivo sempre foi a mesma. O único filho, Erli Neri Gaertner, 38 anos, cuida da parte pesada na lavoura. "Meus pais fazem o serviço básico sem muito esforço. O pai não aguenta mais o serviço pesado. Os dois já estão aposentados. Eu cuido de tudo pra eles e minha esposa ajuda", relata.

Em 3 hectares e meio da propriedade,  foi plantado o tabaco, com lucro de R$ 35 mil líquidos. O milho plantado em 10 hectares rendeu 1200 sacas. Um terço é para o consumo próprio da família. O restante, cerca de 1 mil sacas, rendeu R$ 17 mil líquidos. Das 43 cabeças de gado, 12 foram vendidas, a preço de R$ 2 mil brutos (R$ 1 mil líquidos).

Diversificação e tabaco:

"O produtor hoje em dia não pode viver só do tabaco, mas também não pode deixar de ter na propriedade. A gente tem essa variedade para se manter melhor, o mercado muda muito. O tabaco pelo pouco que planta ainda gera mais lucro, mas o produtor precisa se alimentar também, na nossa propriedade dividimos comercialização e consumo", afirma Erli.

Fonte: Gazeta do Povo