Nova alta da gasolina, diesel e gás de cozinha: até onde os preços podem ir? Entenda qual deve ser o impacto do reajuste
Na leitura dos analistas, a duração do conflito entre Rússia e Ucrânia e as soluções que serão encontradas para mitigar os efeitos econômicos da guerra vão influenciar o valor do preço do barril de petróleo no mercado internacional.
11/03/2022
Por Clic Paverama | Contato@clicpaverama.com.br | Clic do Vale
Em Notícias Gerais
Com o aumento do preço dos combustíveis anunciado pela Petrobras para as distribuidoras, o custo da guerra na Ucrânia chegou ao bolso do consumidor brasileiro: a partir de hoje, sexta-feira, dia 11, a Petrobras vai reajustar os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha.
A estatal justificou a alta dos combustíveis diante do aumento da cotação do barril de petróleo no mercado internacional provocado pelo conflito entre Rússia e Ucrânia – nesta quinta, o valor do barril superou o patamar de US$ 115. No começo da semana, quase tocou os US$ 140.
"Após serem observados preços em patamares consistentemente elevados, tornou-se necessário que a Petrobras promova ajustes nos seus preços de venda às distribuidoras para que o mercado brasileiro continue sendo suprido, sem riscos de desabastecimento, pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros produtores, além da Petrobras", informou a estatal em comunicado.
No Brasil, o preço dos combustíveis é influenciado, entre outros fatores, pela cotação do dólar e pelo valor do barril no mercado internacional.
Os novos valores:
Segundo o comunicado da Petrobras, com a alta desta quinta-feira, o preço médio de venda da gasolina passará de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro, alta de 18,8%, e o valor do diesel vai subir de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro, aumento de 24,9%.
O preço médio de venda do GLP foi reajustado em 16,1% e passará de R$ 3,86 para R$ 4,48 por quilo, equivalente a R$ 58,21 por 13 quilos.
O último levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostrou o preço médio do diesel em R$ 5,603 nos postos do país e o da gasolina em R$ 6,577.
A magnitude do repasse para o consumidor depende de distribuidores e revendedores.
Para onde vão os preços do petróleo?
Por ora, os analistas dizem que é difícil projetar o comportamento do preço do barril de petróleo nos próximos meses.
O que vai determinar a cotação da commodity é o tempo da duração e a extensão do conflito entre Rússia e Ucrânia e também as soluções que serão encontradas para mitigar os efeitos econômicos da guerra.
"Historicamente, o preço de petróleo é difícil de prever", afirma David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da ANP. "Ninguém previa que ele chegaria a zero no início da pandemia e também não previa que fosse chegar ao preço que chegou logo após a pandemia."
Nesta semana, os Estados Unidos proibiram a importação de petróleo russo – e o anúncio fez o valor do barril disparar.
Restrição dos EUA ao petróleo russo: quais podem ser as consequências?
A Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo, com exportações de cerca de 7 milhões de barris por dia de petróleo bruto e derivados combinado, ou cerca de 7% do fornecimento global.
"Se o conflito ficar circunscrito à Rússia, há meios para se fazer compensações em relação ao abastecimento de petróleo", afirma Zylbersztajn.
Os impactos na economia: mais inflação e alta de juros:
Nas contas do banco Fator, a alta anunciada dos combustíveis deve adicionar 1,5 ponto percentual na projeção de inflação deste ano – desconsiderando os efeitos secundários. A previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) da instituição subirá de 7% para a faixa de 8,5%.
"Um choque desse tamanho arrebenta a renda das famílias e aprofunda a piora na atividade", afirma José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator.
O anúncio da Petrobras também fez com que André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), alterasse a sua previsão para a inflação. Agora, ele prevê que o IPCA deve encerrar este ano em 7,5%. E o aumento do preço dos combustíveis traz o risco de uma disseminação das pressões inflacionárias.
"Existe um impacto indireto. São aqueles que vêm com aumento do preço do frete, das pressões sobre (o preço dos) ônibus urbanos", afirma Braz. "Os impactos vão ainda para o agronegócio, as máquinas do campo são movidas a diesel. É um aumento que ajuda a espalhar as pressões inflacionárias."
Com mais inflação, o Banco Central tende a subir ainda mais a taxa básica de juros (Selic) – atualmente em 10,75% –, o que deve se transformar em mais um revés para a já combalida economia brasileira.
Em ano eleitoral, a disparada dos preços dos combustíveis entrou no centro do debate eleitoral. Nos últimos meses. o Congresso e a equipe econômica passaram a discutir uma série de projetos para tentar mitigar a alta dos preços dos combustíveis.
Na quarta-feira (9), com um pedido do vice-líder do governo, o Senado adiou novamente a votação de dois projetos que tentam conter a alta do preço dos combustíveis.
Um dos projetos em discussão no Senado trata da cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - principal tributo estadual. O projeto estabelece que o tributo passe a ser feita de forma "monofásica", ou seja, em uma única fase da cadeia de produção. E que todos os estados tenham alíquotas uniformes.
A medida afeta diesel, biodiesel, gasolina, etanol, gás de cozinha e gás natural e sofre resistência entre governadores e secretários de Fazenda estaduais.
O outro texto prevê a criação de uma espécie de conta, cujos recursos seriam usados para amortecer o efeito da variação do petróleo no mercado internacional nos preços dos combustíveis no Brasil.
(Atualização: Depois de publicada a matéria, o Senado aprovou o projeto que cria fundo de estabilização dos preços dos combustíveis)
Essa conta seria alimentada por diferentes fontes de receitas federais, como os dividendos pagos pela Petrobras à União — dividendo é a parcela do lucro que uma empresa repassa a seus acionistas.
A proposta, porém, é fortemente criticada pelo Ministério da Economia, que aponta a necessidade de mobilizar um volume muito grande de recursos para um efeito muito pequeno na bomba.
Fonte: G1
Mais lidas da semana